A criação da Diretoria de Aeronáutica da Marinha
Durante a IIª Guerra Mundial, a Marinha de Guerra ficou desprovida de meios aéreos sob o seu controle, desde a extinção da Aviação Naval, em 1941. Como ficou patente naquele conflito, o porta-aviões passou a ser o principal meio de superfície, desbancando o encouraçado.
A fim de remediar tal situação, em 1952 foi criada a Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM), com a responsabilidade de coordenar as atividades relativas à aviação embarcada.
A criação do Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval
Em 1955, foi criado o Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval (CIAAN), com a finalidade de ministrar cursos versando sobre operações aeronavais para pessoal da Marinha de Guerra e da Força Aérea Brasileira. Um dos primeiros cursos foi o de formação de Observador Aéreo Naval, cuja parte teórica iniciou em 1º de março de 1956. Já a parte prática foi realizada junto ao Aeroclube do Brasil, durante a qual os oficiais participantes do curso receberam instrução de voo nas aeronaves do Aeroclube.
A instrução aeronaval no exterior
Ao mesmo tempo em que o CIAAN era criado, a Marinha enviou aos EUA oficiais para receberem instrução de voo em aeronaves de asas rotativas, junto à US Navy. Além disso, oficiais e graduados foram enviados aos EUA para receberam treinamento para manutenção de aeronaves e seus sistemas.
A aquisição do primeiro porta-aviões
Em dezembro de 1956 foi adquirido, do governo britânico, o porta-aviões leve da Classe Colossus, HMS Vengeance. Esse porta-aviões foi enviado aos estaleiros Verolme, na Holanda, em julho de 1957 para passar por um processo de modernização, cuja principal modificação consistia na adição de um convés de voo em ângulo, a 8,5°, instalação de catapulta e mecanismo de parada. Também a ilha foi modificada e outros sistemas, e finalmente, em 6 de dezembro de 1960, o Navio-Aeródromo Leve “Minas Gerais” (A-11) foi incorporado à Marinha de Guerra, chegando ao Brasil no início de 1961.
Os primeiros helicópteros da Aviação Naval
Em meados de 1958 chegaram dois Westland WS-51 Widgeon Mk.2, os quais foram utilizados pelo CIAAN para instrução de pilotagem dos oficiais que haviam concluído o Curso de Observador Aéreo Naval. Também no mesmo ano chegaram dois Kawasaki-Bell 47G, adquiridos juntamente com os navios-hidrográficos “Sirius” e “Canopus”. Ainda em 1958, chegaram três Bell 47J. Assim, ao final de 1958 o CIAAN dispunha de sete helicópteros, os quais foram empregados em inúmeras tarefas, além da instrução de pilotagem.
A Força Aérea Naval
No dia 5 de junho de 1961, através do Aviso Ministerial nº 1.003, foi criada a Força Aérea Naval, pertencente à Esquadra e composta pelo NAeL “Minas Gerais”; pelo 1º Grupo Aéreo Embarcado, o qual era constituído por dois esquadrões: o 1º Esquadrão de Aviões Anti-Submarino e o 1º Esquadrão de Helicópteros Anti-Submarino; pelo 2º Esquadrão de Helicópteros Anti-Submarino, o qual operaria a partir de outros meios de superfície da Esquadra; e o 1º Esquadrão de Helicópteros de Emprego Geral (EsqdHU-1). Dado o pequeno número de aeronaves disponíveis, apenas este último pode ser organizado, tendo sido ativado em maio de 1962.
A Base Aérea Naval de São Pedro d’Aldeia
As instalações do CIAAN não eram ideais para o desenvolvimento das atividades aéreas da Marinha, e já em 1957 um local havia sido escolhido para a construção de uma base aérea naval, na localidade de São Pedro d’Aldeia – RJ. A partir de fins de 1960, iniciou-se a transferência gradativa das unidades aéreas para as instalações lá construídas. A Base Aérea Naval de São Pedro d’Aldeia (BAeNSPA), no entanto, só foi criada em 10 de maio de 1966.
As aeronaves de asa fixa da Marinha
Em 22 de fevereiro de 1961, foram criados dois esquadrões, subordinados ao CIAAN: o 1º Esquadrão de Helicópteros de Instrução e Adestramento (EsqdHI-1) e o 1º Esquadrão de Aviões de Instrução. Esse último era dotado, originalmente, de apenas três aviões: um Taylorcraft BC-12D, um CAP-4 e um Fairchild PT-26. Essas aeronaves, além de poucas, eram inadequadas para o treinamento dos pilotos navais, de forma que a Marinha adquiriu, em 1962, seis aviões de treinamento suíços Pilatus P-3-04, os quais chegaram ao Brasil em janeiro e março de 1963.
Ocorre que vigia, à época, o Decreto-Lei nº 2.961, o qual determinava que todos os meios aéreos das Forças Armadas eram de uso e operação exclusivos da Força Aérea Brasileira. Existia uma rivalidade grande entre as duas Forças e o ressurgimento da Aviação Naval não era visto com bons olhos pelo Ministério da Aeronáutica.
Nesse ambiente, a montagem dos seis Pilatus foi feita com grande segredo, à noite; uma pista de apenas 500m foi construída na área do CIAAN, disfarçada com uma avenida. À medida que os Pilatus eram liberados para uso, decolavam da “avenida” em direção à São Pedro d’Aldeia.
Em 1963, a Marinha adquiriu 6 aviões North American T-28C, os quais foram modificados para a versão R-1, dotada de motor mais potente. Os T-28R-1 foram montados a bordo do NAeL “Minas Gerais”, equipando o 1º Esquadrão de Aviões Anti-Submarino. Em novembro daquele ano, os T-28R-1 foram os primeiros aviões brasileiros a realizarem as decolagens e pousos enganchados a bordo de porta-aviões. Apesar de serem aeronaves inadequadas para guerra antissubmarina, os T-28R-1 foram instrumentais no adestramento dos pilotos navais para o uso de aeronaves de asa fixa a bordo de um porta-aviões.
Também foram recebidos, nesse período, doze T-28A-NT, os quais haviam sido destinados originalmente à Força Aérea Francesa. Os T-28A-NT não chegaram a ser montados, no entanto; à essa altura, as relações entre a Marinha e a Força Aérea encontravam-se cada vez mais tensionadas, de tal forma que uma solução “salomônica” foi tomada pelo governo em 1965.
Através do Decreto nº 55.627, de 26 de janeiro de 1965, foram regulamentadas as atividades aéreas navais. Mais uma vez, a Marinha perdia o direito de operar aeronaves de asa fixa, ficando restrita à utilização de helicópteros; a operação de aviões a bordo do NAeL “Minas Gerais” ficaria a cargo da Força Aérea Brasileira, com as aeronaves Grumman S-2A Tracker P-16 do 1º Esquadrão do 1º Grupo de Aviação Embarcada (1º GAE). O decreto determinava, ainda, a transferência à FAB dos aviões operados pela Marinha (os Pilatus P-3, NA T-28R-1, NA-T-28A-NT, Fairchild PT-26 e CAP-4); a FAB transferiria à Marinha, por sua vez, os helicópteros antissubmarino Sikorsky SH-34G, os quais compuseram, por um pequeno período, o 2º Esquadrão do 1º GAE.
Bibliografia:
- J. Flores Jr., “Aviação Naval Brasileira”, Action Editora, Rio de Janeiro, 1995.