Savoia-Marchetti SM.55A (P1S)

HISTÓRICO

O Savoia-Marchetti SM.55 era um aerobote com duas fuselagens-casco construídas em madeira, com cauda dupla, asa alta e dois motores num arranjo trator-propulsor, montados em reparo em formato de duplo “N” sobre a seção central da asa. Seu primeiro voo foi realizado em 1924 e os primeiros exemplares começaram a ser usados em 1926. Mais de 243 exemplares das oito versões construídas foram utilizados até fins da década de 1940.

Os S.55 foram desenvolvidos inicialmente como aeronaves torpedeiras. Porém, esses aerobotes entraram para a história da aviação por terem sido usados em quatro travessias transatlânticas. Em fevereiro de 1927, dois oficiais da Aeronáutica Real italiana, Francesco de Pinedo e Carlo del Prete, voaram desde a Itália até o Brasil, Caribe e América do Norte, a bordo do S.55 “Santa Maria”. Esse foi substituído por um outro SM.55, “Santa Maria II”, após o primeiro ter sido danificado, com o qual completaram sua jornada pelos EUA e Canadá, antes de retornarem à Itália, três meses após. Em abril de 1927 foi a vez do brasileiro Joao Ribeiro de Barros e sua tripulação cruzarem o Oceano Atlântico a bordo do SM.55 “Jahú”.

Um poster exaltando o raide aéreo Itália-Brasil, realizado em 1931 por hidroaviões SM.55A, comandados pelo general Ítalo Balbo.

Em 1931, o general italiano Ítalo Balbo, um dos mais experientes aviadores à época, comandou uma esquadrilha de onze aeronaves SM.55A num voo desde a Itália até o Brasil. Dois anos após, Balbo comandou um outro raide transatlântico, dessa feita com 24 aeronaves SM.55, desde a Itália até os EUA, para participarem da Exposição Internacional “Progresso do Século”, a qual se realizava em Chicago. Esses raides italianos acabaram ficando conhecidos como “Balbos”, uma expressão que é usada até hoje nos meios aeronáuticos para designar voos com grande número de aeronaves, principalmente em shows aéreos.

No Brasil

Os onze SM.55A do raide de 1931 acabaram por serem adquiridos pelo governo brasileiro num escambo por café brasileiro. Matriculados inicialmente com os números 1 a 11, eles foram distribuídos à Aviação Naval em julho de 1931, ficando sob o controle do Centro de Aviação Naval.

Já nos seus primeiros dias de operação na Marinha de Guerra, os SM.55A nºs 1 a 7 voaram até Buenos Aires, Argentina, para participarem das comemorações da independência (no dia 9) e, no dia 18, até Montevidéu, Uruguai, onde participaram das comemorações da data nacional uruguaia.

Após o regresso dessa exitosa viagem aos países platinos, os onze SM.55A passaram a compor a Flotilha Independente de Patrulha, baseada no Galeão, Rio de Janeiro, juntamente com três aerobotes Martin PM-1B de fabricação norte-americana.

Viagem de três aviões Savoia Marchetti SM.55A do Rio de Janeiro para São Vicente (SP) para as comemorações do Quarto Centenário da cidade e viagem a Florianópolis, 22/01/1932 (foto: Jorge Kfuri, via Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha).

Com três dos SM.55A perdidos em acidentes nos primeiros oito meses de uso, os oito restantes passaram a compor a Flotilha Mista Independente de Aviação de Patrulha (FMIAP), em 10/03/1932. Em 26/04/1932, outros dois SM.55A foram perdidos, reduzindo o efetivo a seis aeronaves. Em 16/06/1932, a FMIAP foi desativada, pendente da organização da Força Aérea da Esquadra.

Com a eclosão da Revolução Constitucionalista, em 09/07/1932, os SM.55A foram usados em operações contra as instalações militares tomadas pelas tropas paulistas. A usina elétrica de Cubatão foi atacada no dia 28 de julho, causando danos mínimos. Outras ações se sucederam, culminando com dois ataques bem sucedidos ao Forte de Itaipu, na entrada do porto de Santos, realizados em setembro de 1932, os quais acabaram por danificar seriamente aquela instalação militar.

Devido ao emprego durante o conflito, a disponibilidade dos SM.55A foi afetada, fazendo com que restassem apenas cinco aeronaves em condições de voo. Em 17/11/1932, elas foram distribuídas à 1ª Divisão de Patrulha, subordinada à Força Aérea da Esquadra. Os SM.55A foram nesse mesmo mês designados como tipo P1S (indicando ser uma aeronave de Patrulha, 1º modelo da fábrica Savoia-Marchetti, seguindo o modelo de designação empregado pelo Escritório de Aeronáutica da Marinha dos EUA), e matriculados como P1S-16 a P1S-20.

A Ponta do Galeão, em 1933, sede do Centro de Aviação Naval do Rio de Janeiro. A foto mostra três hidroaviões SM.55A ancorados, bem como um O2U-2A Corsário próximo a uma das rampas (foto: Serviço de Relações Públicas da Marinha).

Em 1933, o P1S-16 foi desativado e, a partir daí, as dificuldades encontradas para mantê-los em condições de voo levaram à canibalização de aeronaves para manter outras, até as duas últimas aeronaves serem desativadas, em 1936, quando já faziam parte do 1º Grupo Misto de Combate, Observação e Patrulha.

Características técnicas (Savoia-Marchetti SM.55A)

Motor 2 motores em linha V-12 Fiat A.22R de 560 HP, refrigerados a água
Comprimento 16,50 m
Envergadura 24,00 m
Superfície alar 92,00 m2
Altura 5,00 m
Peso 5.750 kg (vazio); 8.260 kg (máximo)
Velocidade 205,00 km/h (máxima)
Alcance 1.200 km a 2.200 km, dependendo da carga paga transportada e combustível interno.
Razão de subida 111 m/min até 1.000 m de altitude; 80 m/min de 1.000 m a 2.000 m de altitude; 37,50 m/min de 2.000 m a 3.000 m de altitude
Teto de serviço 3.000 m
Tripulação Dois pilotos; 3 ou 4 outros (navegador, mecânicos de voo)
Armamento 4 metralhadoras Lewis de 7,7 mm, montadas nas partes dianteira e traseira das fuselagens-casco; 1 torpedo ou até 400 kg de bombas em cabides instalados na seção central da asa.

Vistas laterais

SM.55A nº 11, Força Independente de Patrulha, 1931.
P1S nº 19, 1ª Divisão de Patrulha, 1933,

Bibliografia:

  1. J. Flores Jr., “Aeronaves Militares Brasileiras – 1916 – 2015”, Action Editora, Rio de Janeiro, 2015.
  2. 100 Anos da Aviação Naval no Brasil / FGV Projetos. – Rio de Janeiro:
    FGV Projetos, 2016.
  3. D. O’Connor, “Italy’s Consummate Showman: Italo
    Balbo”. https://www.historynet.com/italys-consummate-showman-italo-balbo.htm. Visitado em 30/07/2021.
  4. “Francesco de Pinedo”. https://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Francesco_de_Pinedo&oldid=1018416108. Visitado em 30/07/2021.
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